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As construções modernas em madeira têm a sua base nas antigas estruturas que, desde os primórdios da humanidade, serviram de abrigo e proteção. Os conceitos fundamentais das primitivas construções — simplicidade, funcionalidade e resistência — permanecem até hoje, evoluídos em técnica mas fiéis à sua essência.
Sempre que havia materiais orgânicos disponíveis, estes eram aproveitados para erguer estruturas sobre armações de madeira. Para muitas tribos aborígenes, bastava uma armação de ramos ou troncos finos, coberta com folhas, ervas ou cascas de árvores. Essa simplicidade respondia às necessidades mais elementares e marcava o início de uma longa tradição construtiva.
Esses troncos rudimentares, que funcionavam como suporte para coberturas vegetais, foram os precursores das atuais estruturas em madeira. Ao longo dos séculos, com o aperfeiçoamento gradual das ferramentas e das técnicas, o Homem foi refinando a arte de construir. Os métodos de assemblagem variavam de povo para povo, consoante os recursos disponíveis. Em muitas regiões, a união das peças era feita apenas com cordas de fibras vegetais ou lianas que, apesar da aparente fragilidade, mostravam-se incrivelmente resistentes e flexíveis, capazes de enfrentar ventos fortes e tempestades.
Também as coberturas acompanharam esta evolução. Primeiro feitas com materiais vegetais simples, passaram a incluir tecidos resistentes e esteiras de fibras de palmeira, que mais tarde serviram de suporte a camadas de barro e argila. Destas soluções nasceram as primeiras telhas: leves, fáceis de transportar e práticas na aplicação.
A grande diversidade de casas construídas em madeira, unidas por fibras naturais, prova a solidez e a segurança destas técnicas. Desde cedo, revelaram-se um método eficaz, económico e universal de utilização dos recursos da natureza. Em várias partes do mundo, algumas destas estruturas atingiram tal nível de desenvolvimento que ainda hoje surpreendem pela sua engenhosidade.
Exemplo disso são as construções da Ásia Central, que resistiram ao tempo e chegaram à atualidade como testemunho vivo de uma tecnologia extraordinária, difícil de superar mesmo com os recursos modernos.
Existem registos arqueológicos que mostram que, desde o Neolítico, a madeira era utilizada na construção de abrigos, sendo referida por historiadores romanos como Tácito na Alemanha, com troncos cortados em secção quadrangular. Segundo Heródoto, já em 1.000 a.C., troncos eram usados em túmulos reais, e por volta de 700 a.C., Biscupin, na Polónia, era uma povoação composta por casas de troncos. Na Escandinávia, entre os séculos IV e XI d.C., as casas de troncos horizontais ou verticais eram comuns, sendo a disposição horizontal preferida pela maior estabilidade.
Esta técnica apresentava desafios: fechar os espaços entre troncos para evitar infiltrações era difícil, e os topos expostos ficavam sujeitos a apodrecimento. Com o desenvolvimento da serragem no século XV, surgiram tábuas grossas unidas por espigas, permitindo maior estanqueidade e durabilidade. Assim, as casas de troncos evoluíram para casas de tábuas ou troncos retangulares, mais seguras e resistentes.
A arquitetura em madeira continuou a evoluir, chegando a formas surpreendentes em todo o mundo. Na Ásia, África, Polinésia e América do Sul encontram-se casas construídas no alto das árvores, igrejas e habitações de grandes dimensões sustentadas por pilares de bambu. A tradição de construir sobre colunas, em terra firme ou sobre água, estende-se desde a Suíça e os Pirenéus até à Indonésia, Filipinas, China, Daomé e América do Sul, preservando técnicas ancestrais usadas para proteção contra águas e animais, como nas primeiras palafitas e casas lacustres.
Na Inglaterra medieval, os carpinteiros desenvolveram sistemas para ampliar a planta dos edifícios, utilizando peças verticais curvadas, cavaletes e tábuas de resistência à tração. Estas técnicas permitiram construir casas de cinco a seis pisos, resistentes e duradouras, muitas das quais sobrevivem até hoje. O enchimento das paredes era feito com areia e argila aplicadas sobre ripas e tecidos, sendo depois substituído gradualmente por alvenaria e tijolos, que ofereciam maior resistência e possibilidades decorativas. Exemplos notáveis incluem a Paycockes House em Coggeshall e a Portan House perto de Hamburgo, com tijolos dispostos de formas originais.
No século XVII, com a difusão do vidro, as estruturas de madeira ganharam ainda mais relevância: as janelas passaram a encaixar perfeitamente nas vigas e os painéis decorativos valorizaram esteticamente os edifícios. Foi nesse período que a arquitetura em madeira atingiu o seu apogeu, estabelecendo princípios e soluções que influenciam as construções até aos dias de hoje.