Um Pouco de História

Já lá vai o tempo em que o Homem vivia nos buracos das rochas.

Era ali que fazia os seus abrigos! Assim que saiu dos buracos das rochas a madeira foi a primeira matéria prima a ser utilizada pelo Homem para sua proteção.

As construções modernas estão baseadas, estrutural e tecnicamente, nas antigas estruturas de casas de madeira e até nos tradicionais conceitos de abrigo e proteção das primitivas construções, que satisfaziam as exigências mais elementares e cujas características essenciais perduram até aos nossos dias.

Em qualquer lugar que fosse possível encontrar facilmente materiais orgânicos aptos para a construção, estes eram aproveitados para serem utilizados sobre qualquer tipo de estrutura de madeira.

Eram escassas as exigências de um abrigo para algumas tribos aborígenes.

As tribos aborígenes ficavam satisfeitas com uma simples armação de ramos ou pequenos troncos, que se cobriam com folhas, ervas ou cascas de árvores.

Estes troncos que serviam de apoio e suporte para esta simples cobertura foram os percursores das estruturas de madeira atuais cuja evolução técnica foi gradualmente e ao longo dos séculos servindo as exigências do Homem.

Os diversos procedimentos com que se realizavam as assemblagens das distintas partes da estrutura de uma casa foram determinados pela qualidade das ferramentas, mais ou menos sofisticadas, que os diversos povos possuíam.

Em muitas partes do mundo a união das peças de madeira era realizada apenas com o auxílio de cordas tecidas com as fibras de folhas e com lianas. Estas uniões eram muito resistentes e graças à sua grande flexibilidade resistiam a ventos fortes e mesmo a vendavais violentos.

Na cobertura destas habitações eram utilizados materiais de origem vegetal, que aos poucos foram substituídos por outros (tecidos fortes e esteiras feitas com fibras de palmeiras) que mais tarde serviram de suporte a camadas de barro e argila e que, posteriormente, deram origem às telhas, facilmente transportáveis e de fácil utilização.

A grande variedade de casas construídas à base de peças de madeira, unidas entre si com fibras vegetais fala por si mesmo da solidez da sua construção e da sua segurança estrutural, constituindo e, talvez desde sempre, o método mais eficaz e mais económico de utilização de materiais naturais que se encontram em toda a parte do mundo.

Algumas dessas estruturas como as das casas da Ásia Central alcançaram um nível tão grande de desenvolvimento que dificilmente a tecnologia moderna terá algo a acrescentar. Estas construções chegaram até à atualidade, como testemunho da sua extraordinária tecnologia.

CASAS DE MADEIRA

Existem testemunhos arqueológicos de que no período Neolítico se utilizavam as construções em troncos de árvores e os historiadores Romanos (entre eles Tácito) afirmavam que já naquele tempo, na Alemanha, se construíam casas em que se utilizavam troncos cortados em secção quadrangular.

Segundo Heródoto, já no ano 1.000 a.C., eram utilizados troncos de árvores para a construção dos túmulos de Reis.

A abundância de bosques de coníferas no norte e este da Europa constituía um elemento básico para que a madeira fosse utilizada na construção.

Sabe-se que, no ano 700 a.C., em Biscupin, na Polónia, existiu uma povoação constituída por casas de troncos.

Há documentos que atestam a construção de casas de madeira na Noruega, no século IV d.C. e que na Escandinávia as casas de troncos de madeira, dispostos horizontal ou verticalmente eram frequentes a partir do ano 1.000 d.C..

Os troncos horizontais eram unidos entre si nas suas esquinas, mediante diversos tipos de acoplamento. Esta disposição horizontal dos troncos teve maior aceitação do que a disposição vertical, devido à maior estabilidade que conferiam à construção.

O principal inconveniente da disposição horizontal dos troncos consistia na maior dificuldade em conseguir que os espaços entre eles fossem tapados para evitar a infiltração de ventos e de águas. Esta estanqueidade era conseguida calafetando as fendas com telas tecidas na cor da madeira ou, nas casas mais humildes, com argila, musgo ou terra.

No entanto, qualquer destes métodos apenas atenuava a penetração do vento e da chuva.

Outro inconveniente na disposição horizontal dos troncos consistia no facto dos topos dos troncos ficarem a descoberto ficando facilmente à mercê do apodrecimento.

Com o desenvolvimento das técnicas de serragem, a partir do século XV, algumas serrações utilizando a água como força motriz, tornaram mais fácil a obtenção de grossas tábuas que, por meio de espigas, permitiam uma melhor união entre si. Deste modo, a pouco e pouco, as casas de troncos foram sendo substituídas por casas de tábuas ou troncos retangulares que permitiam uma melhor estanqueidade e estabilidade.


A Arquitetura em madeira, partindo destes princípios, foi evoluindo e passando por uma fase de construção popular, alcançando níveis surpreendentes e de grande realização à medida que o desenvolvimento tecnológico foi evoluindo.

Nos nossos tempos, podemos admirar extraordinários exemplos de arquitetura em madeira, em diversas zonas do nosso globo. A Ásia, África, Polinésia e América do Sul oferecem-nos alguns dos exemplos mais impressionantes.

Esta arquitetura ainda utiliza um método que data a idade da pedra: Construir no alto das árvores (exemplos de casas da Nova Guiné, Malásia e alguns lugares da Índia).

Igrejas e algumas casas da Nova Guiné têm mais de 18 metros de altura, 30 de comprimento e são construídas inteiramente em madeira. Pilares de Bambu profundamente cravados no solo, erguendo-se no ar, como arcos góticos, sustentam uma pesada cobertura de teto, constituindo algumas das mais audazes estruturas de madeira construídas com o auxilio de ferramentas artesanais e muito limitadas.

A construção sobre colunas em terra firme ou no fundo de lagos é uma tradição que se estende desde o Cantão Suíço de Valais e dos Pirenéus até á Indonésia, Filipinas, Perú, China, África especialmente no Daomé, América do Sul e muitos lugares do Sudoeste da Ásia. Nestes locais ainda se utiliza este sistema, quer para proteção das águas, quer para evitar o ataque de animais, tal como, nas primitivas civilizações, os palafitas e casas lacustres.

EUROPA

Na Escandinávia, a construção em madeira foi inicialmente executada à base de estruturas em aduela, mas a partir do século XV, este sistema foi substituído pela construção em troncos.

Na Inglaterra e na Europa, este tipo de construção foi utilizada, pela primeira vez, pelos Romanos e na Itália existiu durante algum tempo o sistema de casas em madeira, encostadas umas às outras, ficando deste modo perigosamente sujeitas a incêndios.

Os princípios básicos da construção em madeira na Europa remontam à idade do Bronze. As grandes pranchas cortadas em forma quadrangular estavam ao alcance dos limitados meios técnicos da altura e de como fazer uma estrutura deste tipo de pranchas exigia menos elementos que na utilização dos troncos. Foi este tipo de construção que mais foi utilizado. A madeira mais comum era o Castanho. Também nesta época se começaram a utilizar os princípios básicos da triangulação, a união de uma madeira horizontal com uma vertical, quer com a utilização de uma outra, na diagonal, quer entre cruzadas em forma de cruz de Santo André.

O costume inglês de construir casas com janelas salientes, utilizando para tal vigas e apoios oblíquos foi evoluindo a pouco e pouco e tanto na Inglaterra como na Europa, o uso na construção de corpos salientes ao plano das paredes generalizou-se, tanto mais que esta técnica permitia a redução do tamanho das pranchas que suportam a carga e facilitam a construção.

Os carpinteiros ingleses medievais inventaram uma estrutura especial que permitia aumentar a planta dos edifícios e que consistia na utilização de duas peças verticais curvadas, que normalmente provinham do mesmo tronco cortadas longitudinalmente, unidas nos seus extremos por um cavalete e estabilizadas por uma tábua de resistência à tração ao nível do primeiro andar.

Nos finais da idade média, a destreza dos carpinteiros e artífices permitia construir edifícios até cinco e seis pisos. Deste modo, muitos edifícios da idade média e renascimento foram construídos em madeira e resistiram tanto ou mais como os construídos em pedra e tijolos.

Grande parte do encanto com as estruturas em madeira utilizada na construção de edifícios consistia nos elementos utilizados para formar paredes. Todas elas eram construídas enchendo simplesmente os espaços existentes entre os elementos em madeira com areia e argila, que se aplicava sobre um entrelaçado de ripas e tecido firmemente preso à estrutura de madeira, tanto pelo interior como pelo exterior.

Quando, para a estrutura do edifício, se utilizava madeira pouco seca, que sofria torções e contracções, este enchimento estalava, sendo necessário um reenchimento posterior para solucionar o problema.

Depressa este sistema de enchimento foi substituído pela utilização de alvenaria e tijolos que permitiam, além do mais, suprimir as telas e os entrelaçados de ripas.

Na Suécia e mais tarde na Holanda, para este enchimento, adotou-se a alvenaria, contudo foi logo substituída pelo tijolo que permitia efeitos muito decorativos e originais.

De salientar a Paycockes House em Coggeshall no Essex com as suas paredes formadas por tijolos, dispostos em espinha de peixe e a sumptuosa Portan House, perto de Hamburgo que apresenta tijolos com uniões brancas, muito originais, sobre as janelas e portas.

No século XVII, quando se começou a difundir a utilização do vidro, as vantagens das estruturas de madeira adquiriram extraordinária relevância. As janelas passaram a ser elementos fundamentais na construção, encaixando perfeitamente nas estruturas de madeira, enquanto os painéis passaram a ser elementos decorativos que as rodeavam.

Durante este período as estruturas de madeira alcançaram o seu apogeu e as suas principais características evoluíram até aos tempos atuais.

Uma forma diferente de estar na vida!